Vídeo: Povos Pataxó realizam autodemarcação de território em Prado e denunciam violência contra indígenas
Na última quarta-feira, 3 de abril de 2025, indígenas Pataxó do Território Comexatibá, no município de Prado, extremo Sul da Bahia, realizaram a autodemarcação da Fazenda Japara Grande. O ato, segundo as lideranças, é uma ação pacífica de resistência e afirmação dos direitos constitucionais dos povos originários à terra.
A iniciativa ocorre em meio a um cenário de crescente tensão na região. Os indígenas denunciam a morosidade do Estado em reconhecer oficialmente os territórios Comexatibá e Barra Velha, cujos processos de demarcação se arrastam há anos sem resposta efetiva por parte dos órgãos competentes. Durante esse período, os Pataxó relatam perseguições, ameaças e assassinatos de lideranças.
Em 2022, três jovens guerreiros da comunidade — Gustavo, Inaui e Samuel Pataxó — foram assassinados em decorrência da luta territorial. Mais recentemente, no mês passado, uma liderança indígena foi brutalmente espancada e ameaçada por policiais militares. Segundo relatos, os agentes afirmaram que “se vissem indígenas pela frente, iriam matar”.
A situação voltou a escalar durante a autodemarcação: no próprio dia 3 de abril, um indígena foi baleado por um fazendeiro da região. As lideranças exigem que a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o Ministério dos Povos Indígenas (MPI), o Ministério Público Federal (MPF) e as forças de segurança pública acompanhem a retirada de gado e bens da fazenda, agora retomada como território tradicional.
“Não estamos tomando nada. Estamos exercendo um direito garantido pela Constituição Federal. Somos povos originários, e ninguém vai tirar esse direito que corre no sangue do povo Pataxó”, afirmam em nota divulgada pelas lideranças locais.
A comunidade também se posicionou contra o Marco Temporal e contra a Lei nº 14.701/2023, que estabelece novas regras para demarcações indígenas. Para os Pataxó, tais medidas representam uma tentativa de apagar a história dos povos originários e legalizar injustiças históricas.
“Rejeitamos o Marco Temporal, pois ele desconsidera a violência que sofremos no passado e que ainda enfrentamos no presente. Nossa relação com a terra é ancestral, e nenhuma lei feita para beneficiar quem não conhece nossa realidade vai apagar isso”, enfatizam.
Ao fim do manifesto, os indígenas convocam toda a sociedade, organizações civis e outros povos originários a se unirem em solidariedade à causa. “Nosso território é nossa história, é nossa identidade e a continuidade do nosso povo. Não recuaremos”, concluem.