Prisão

Polícia cumpre mandado contra ex-diretor de escola denunciado por importunação sexual, assédio moral e racismo

26/04/2025 - 11h03Por: Sulbahianews/G1 BA

A Polícia Civil (PC) cumpriu um mandado de busca e apreensão, nesta quinta-feira, 24 de abril, na casa do ex-diretor de uma escola da cidade de Itabuna, no sul da Bahia. Ele é investigado por importunação sexual, assédio moral e racismo.

Segundo informações compartilhadas pela corporação com a TV Santa Cruz, afiliada da Rede Bahia na região, foram recolhidos um notebook, um celular e um pendrive, que serão analisados no inquérito contra Denelísio Nobre.

O caso é apurado pela Delegacia Territorial (DT) de Itabuna. Ainda conforme a PC, a investigação está sob segredo de Justiça.

A defesa do suspeito foi procurada pela reportagem nesta quinta-feira, mas não respondeu até a última atualização desta reportagem.

Denúncias após palestra

O homem foi afastado do cargo de diretor no Complexo Integrado de Educação Básica, Profissional e Tecnológico (CIEBTEC) pela Secretaria de Educação da Bahia (SEC), em fevereiro, após as denúncias de estudantes da instituição.

A SEC informou, inicialmente, que o servidor havia sido afastado das funções. Depois, o órgão disse que ele estava fora das salas de aula por motivos de saúde. A pasta afirmou ainda que a direção do Núcleo Territorial de Educação do Litoral Sul (NTE 05), Ouvidoria e Corregedoria mantêm diálogo com a comunidade escolar. Depois, o diretor foi exonerado.

A situação veio a público depois que os alunos procuraram a advogada Úrsula Matos, depois que ela fez uma palestra na unidade, para comentar sobre os comportamentos do diretor.

Na ocasião, em contato com a TV Santa Cruz, afiliada da TV Bahia na região, o diretor negou as acusações e disse desconhecer o teor das denúncias. Ele ressaltou que tem mais de 30 anos de serviços prestados na educação em Itabuna, sem nenhum tipo de reclamação, e não quis gravar entrevista.

Reunião com ‘linguajar juvenil’ e insistência por beijo

Segundo Úrsula Matos, os estudantes denunciaram o comportamento do diretor durante uma reunião que aconteceu em 2024, onde ele teria usado palavras com teor sexual.

Nessa reunião Denelísio, que é o diretor, proibiu a entrada da vice-diretora e dos professores. Uma das mães chegou lá para entregar um objeto para uma aluna e ele disse: ‘Vaza daqui. Entrega e vaza’. Nessa reunião, que a gente não sabe qual o propósito, ele disse que tinha utilizado linguajar dos adolescentes. E aí ele começou a falar coisas absurdas“, relatou.

Um dos estudantes, que preferiu não revelar a identidade, contou que o diretor pediu para que os alunos não se assustassem, porque ele iria “falar na linguagem juvenil“, que “quem quisesse pegar ele, tava de boa” e que “quem era gay, que podia dar mesmo, e que mulher podia dar também, só que tinha que ter cuidado para não engravidar e ficar com os peitos murchos, caídos”.

A reação de todo mundo foi ficar estagnado, porque ninguém conseguiu saber o que fazer ali”, relembrou o aluno.

Uma outra jovem que estudou no CIEBETEC, que também não quis revelar o nome, disse que foi assediada pelo diretor durante uma viagem da escola.

A banda que eu participo foi para uma viagem em Ilhéus, aí quando chegou lá, entrei no carro dele, com mais duas pessoas. Ele me perguntou qual era a faixa etária de pessoas que eu ficava, e se eu tinha algum interesse em alguém mais velho, com mais de 50 anos. Falei que não tinha interesse“.

A ex-aluna contou ainda que recebeu uma proposta de pagamento para beijar o diretor e relatou que Denelésio chegou a convidá-la para tomar banho de piscina na casa dele.

Quando chegou na escola, ele me perguntou novamente qual era a minha resposta, se eu ia querer. Não ficou só naquele dia, ele me perguntou em vários outros dias se eu tinha interesse“, detalhou.

Quando a gente estava voltando, comentei com uma pessoa que estava comigo que eu queria ir para a piscina, que estava muito calor no dia. Aí ele escutou e falou bem assim comigo: ‘Minha casa tem piscina, se você quiser'”.

A advogada Úrsula Matos contou, ainda, que os estudantes tinham medo de fazer denúncias.

Disse para eles que cancelaria a minha agenda naquele momento para acompanhá-los na delegacia à tarde. Ali já sairia do CIEBETC direto para delegacia. Eles começaram a ficar muito amedrontados, apavorados, pedindo para esperar o ano letivo acabar para tomar uma providência”.

Úrsula Matos contou que entendia que o papel dela era informar a Polícia Civil naquele momento, mas diante da resistência dos alunos, respeitou a decisão. “No final do ano, eles voltaram a me procurar e então eu dei todo apoio e suporte para eles romperem o silêncio”, concluiu.