Os encantos de Corumbau e Caraíva

Caros leitores, antes de tudo quero desejar a todos vocês amigos um ótimo 2016, com muita saúde, prosperidade, paz e viagens. A primeira sugestão do ano será sobre dois lindos lugares aqui do extremo Sul da Bahia: Corumbau e Caraíva.

O primeiro destino é um distrito da cidade do Prado onde vivem cerca de quarenta famílias, de pescadores mestiços a outras de origem indígena da etnia Pataxó. Algumas poucas pousadas e estabelecimentos turísticos também dividem a terra anfitriã. Ainda preservada e deslumbrante, Corumbau possui uma longa faixa de areia branca, com coqueiros e mar límpido e cristalino em varias tonalidades que vão do verde ao azul. É impossível resistir a um mergulho em suas águas quentes e transparentes.

Outras atrações são os arrecifes e o principal cartão postal do vilarejo: O pontal. Trata-se de uma ponta de areia que adentra aproximadamente 500 metros ao mar, onde é possível ver peixes e a vida marinha local, bem como ter uma incrível vista da vila de Corumbau. Só é permitido – e possível – acessar o pontal quando a maré esta baixa, sendo perigoso permanecer nela quando em mudança para outras fases marítimas, trazendo sérios riscos de afogamento. Todavia também é possível conhecer e desfrutar as belezas do mar com o auxílio de canoas à vela conduzidas pelos pescadores credenciados pelo Ibama, pescadores esses que são os únicos autorizados a pescar na Resex – Reserva Extrativista – da vila e que trazem os peixes fresquinhos para serem servidos nos restaurantes à beira mar.

Confesso que quando cheguei em Corumbau, andando pela praia desde Barra do Cahy, acampei na praia e por falta de dinheiro não pude saborear as delicias gastronômicas da vila, entretanto sabendo que nem todos os viajantes são adeptos de uma vida tão rustica e desprovida de recursos como a minha resolvi indicar a vocês a Pousada Villa Segovia. Lá é possível hospedar-se em quartos com internet, ar condicionado, geladeira, TV e café-da-manhã por diárias que variam entre R$ 220 e R$ 350 – baixa e alta temporadas respectivamente. Caso esse valor esteja muito alto para suas condições saiba que a Villa Segovia possui camping por R$ 30 o dia. As reservas podem ser feitas pelo WhatsApp (73) 99984-5344 ou pelo site www.corumbaunet.com.br/sites/villaseg/

Como chegar: Há algumas formas de chegar à Corumbau: De ônibus pela empresa “Expresso Brasileiro”, que tem uma freqüência diária partindo de Itamaraju as 14:40 com o valor de R$ 20,50.

De carro é possível por duas vias, ambas com acesso na BR-101: Acessando a BA-489 na cidade de Itamaraju e de lá acessando outra estrada – de terra – no vilarejo de Guarani ou acessando outra estrada – também de terra – na BA-498 (que leva ao Parque Nacional do Monte Pascoal).  Ambas as estradas de terra levarão até Corumbau e têm aproximadamente 75km de extensão. Outras formas de chegar ao vilarejo são com um passeio de buggy (8km) ou de barco, ambos provenientes de Caraíva, ou como eu fiz: a pé pela praia.

A partir do Rio Corumbau inicia-se o limite sul da reserva dos índios Pataxós e do Parque Nacional e Histórico do Monte Pascoal. Escreverei mais sobre esses locais, bem como a vida dos índios na próxima coluna, entretanto vale salientar que o rio também define o limite das cidades de Prado e Porto Seguro. O limite norte da reserva fica no rio Caraíva, o mesmo que dá nome ao nosso segundo destino.

Como citado acima, Caraíva – que segundo as lendas da região significa a junção do nome de um peixe (Cara) com o nome do pescador (Iva) – fica dentro da reserva indígena pataxó de Monte Pascoal, tendo uma história rica e muito antiga. Segundo dados do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) a comunidade pertencente à cidade de Porto Seguro é o vilarejo mais antigo do Brasil. Os primeiros portugueses chegaram à vila em meados de 1530, encontrando índios de diversas tribos.

Durante muitos anos o vilarejo viveu da pesca e apenas na década de 70 chegaram os primeiros aventureiros e os primeiros motores para barcos, que até então eram movidos a velas. Para chegar a Caraíva era necessário caminhar quarenta quilômetros pela praia ou fretar um barco, contudo hoje tudo mudou. A vila possui inúmeros restaurantes, opções de hospedagem – para todos os bolsos – e desde 2007 foram instalados cabos subterrâneos de energia elétrica. A população local resistiu e não permitiu a instalação de postes convencionais, que degradariam a paisagem da vila. As luzes nas casas, estabelecimentos e ruas são apenas o suficiente para iluminar as noites mais escuras, o que deixa o vilarejo ainda mais charmoso e rústico. As ruas são de terra e não é permitido o tráfego de veículos, com exceção dos buggy´s que levam os turistas até Corumbau pela areia da praia. Outra preocupação ecológica é o lixo e esgoto, uma vez que todas as casas possuem fossa séptica e nada é jogado no rio. As diversas áreas de proteção ambiental e históricas também garantem a Caraíva que sua natureza seja preservada, mas o principal modo de manutenção ecológica é a conscientização de nativos e visitantes.

As atrações de Caraíva são suas praias e o encontro com o rio, contudo o principal encanto do vilarejo é sua própria vida cotidiana. Nela os nativos – pescadores e indígenas – convivem com os moradores estrangeiros e as dezenas de turistas que percorrem suas ruas. Não é difícil encontrar uma roda de violão ou outros instrumentos em algum cantinho da rua à beira do rio ou na praia e assim fazer novos amigos. Outro lugar propício às novas amizades – de nativos e turistas – é o forró, no Bar do Porto ou “Pelé”. Geralmente eles acontecem de sexta-feira e sábado, mas há ocasiões em que acontecem em outros dias da semana, sobretudo no verão. Como assíduo visitante do vilarejo, é no forró que encontro os conhecidos e amigos, um deles o Samukanga ou “Samuka” para os chegados. Descendente de índios e nativo de Caraíva, ele é dono do “Camping do Kalango” que oferece cozinha, internet wi-fi, banheiros e uma grande área de lazer, além da simpatia do anfitrião, por valores que variam entre R$15 e R$50 a diária, dependendo da época do ano. Há opções de quartos e casas – flat – cujos valores devem ser negociados diretamente com Samuka pelo numero (73) 99941-6026 ou perguntando a localização do camping para os moradores.

Como chegar: A maneira mais cômoda e barata de chegar a Caraíva é de ônibus desde Porto Seguro (balsa ou Arraial D´Ajuda). São três horários de ida – 07:00, 11:30 e 15:30, todos passando por Trancoso. Os horários de volta são: 06:20, 11:00 e 16:00. O valor do ônibus da empresa “Águia Azul” é de R$15. Há também uma frequência diária entre Eunápolis e Caraíva, passando por Itabela. Ele sai de Caraíva para Eunápolis as 06:00 e regressa as 14:00. Não tenho conhecimento do valor preciso da passagem, mas segundo os nativos é algo próximo ao valor para Porto Seguro.

Para quem prefere ir de carro o mais aconselhável é ir até a BA-001 e seguir na BA-283, que começa após o entroncamento de Trancoso. É o caminho utilizado pela maioria das pessoas e apesar da estrada de terra não ser das melhores há algumas vilas no caminho que podem dar algum suporte em caso de emergência. Para acessar a BA-001 é só seguir na BR-101 até Eunápolis, lá acessar a BR-367 que leva a Porto Seguro e ingressar na BA-001 após o vilarejo de Vera Cruz. Há sinalização, contudo deve-se ter cuidado com os constantes buracos presentes na estrada.

Há uma alternativa, acessando a BR-283 após o vilarejo de Montinho, ainda na BR-101. Dá para economizar uma boa quilometragem, contudo esse trecho de 42km é muito precário segundo os comentários e o colunista não conhece para emitir opinião à respeito.

Contudo há uma forma de chegar à Caraíva que conheço bem, que é seguindo pela praia desde Arraial D´Ajuda. Inclusive ofereço a quem quiser um passeio bem interessante e diferente, caminhando e acampando por 4 dias e 3 noites entre os dois lugares (Arraial e Caraíva), conhecendo as 22 praias do trecho, incluindo Trancoso, Itaquena, Outeiro (a mais bonita em minha opinião) e a famosa praia do Espelho. Para mais informações desse passeio acesse a página “O Mochileiro Voante” no Facebook.

Espero que tenham gostado das dicas, uma ótima semana a todos e boa viagem!