Mulheres indígenas conquistam espaços nos Comitês de Bacias Hidrográficas da Bahia
Edilene Payayá, do CBHP, e Luciana Kariri, do CBH Grande, estão à frente de diversas iniciativas em prol da preservação do meio ambiente e defesa dos territórios
Nesta sexta-feira, 9 de agosto, Dia Internacional dos Povos Indígenas, os Comitês de Bacias Hidrográficas da Bahia (CBHs) se destacam como importantes agentes na promoção do diálogo e da troca entre as comunidades indígenas e a sociedade, especialmente as mulheres. A data, que simboliza o reconhecimento da luta, memória e importância dos povos indígenas na formação da sociedade, ganha ainda mais relevância à medida que os CBHs criam um espaço para a valorização e preservação dos saberes tradicionais, essenciais para a gestão sustentável dos recursos hídricos no estado.
Criada há 30 anos, a data entrou em vigor após a primeira Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a garantia dos direitos às diversas etnias indígenas do planeta e, de acordo com os dados do Censo 2022 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem quase 1,7 milhão de indígenas autodeclarados de 305 etnias, o que corresponde a 0,83% do total da população no país. Desse recorte, a Bahia é o segundo estado com a maior concentração, sendo 229.103 mil habitantes.
Vinculados ao Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CONERH), os comitês têm caráter consultivo, normativo e deliberativo; além de serem compostos por segmentos do Poder Público, Organizações da Sociedade Civil e Usuários de Recursos Hídricos. Nos CBHs, os membros se reúnem para debater, deliberar e votar processos que envolvem a preservação dos recursos hídricos da área.
A liderança indígena e coordenadora geral do Movimento Associativo Indígena Payayá (MAIP), Edilene Payayá, integra o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paraguaçu (CBHP) e ressalta a atuação da etnia dentro do órgão, visando o combate ao apagamento histórico e social sofrido pelos povos indígenas desde a colonização do Brasil.
“É um espaço de aprendizado onde várias pessoas de diferentes setores trocam saberes. Considero de grande importância a participação dos povos indígenas nesses espaços. Temos a oportunidade de nos mostrar presentes, que estamos vivos e atentos”, afirma.
Entre as iniciativas realizadas na comunidade, que está inserida no território de identidade da Chapada Diamantina, na cidade de Utinga, estão as ações de reflorestação do território que envolvem o plantio e conservação da vegetação nativa.
“Nós temos um foco principal que é o reflorestar, o recatingar. Então, nós temos um viveiro de mudas, onde nós conseguimos mapear mais de 45 espécies de muda nativa; Com isso, nós coletamos, beneficiamos, plantamos, distribuímos. E também conseguimos tirar da ameaça de extinção o mogno brasileiro, pois nós plantamos mais de 10 mil pés de mudas de mogno”, detalha.
Edilene Payayá ainda reitera que o cuidado e respeito à natureza é essencial para a preservação do meio ambiente e redução de impactos para as próximas gerações. “O foco é ter o nosso carinho, o nosso amor e o nosso respeito pela natureza. Nós precisamos conservá-la, pensando também nas gerações futuras”, acrescenta.
Assim como Edilene Payayá, a conselheira do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Grande (CBH Grande), Luciana Kariri, ressalta o trabalho na região oeste da Bahia, mais precisamente no município de Barreiras. Representante da etnia Kariri, ela fala sobre a preservação dos recursos hidrográficos e representatividade da comunidade no comitê.
“Essa ocupação no Comitê da Bacia do Rio Grande é de extrema importância para nós, os povos originários, estar ocupando esses espaços, até porque quando se trata de água, terra, ar, enfim, toda a natureza, é de extrema importância. E esse espaço, pelo menos aqui no nosso território, em Barreiras, deu uma visibilidade grande para toda a comunidade, que não tinha conhecimento da nossa aldeia”, reitera.
Mesmo com a proposta comemorativa, Luciana Kariri considera o 9 de agosto como um momento de reflexão e de luta constante pela manutenção dos direitos dos povos indígenas em todo o mundo, considerando os ataques sofridos por diversas etnias ao longo dos anos, como os povos Ianomâmis, no norte do Brasil. Em 2023, foram registradas 363 mortes de ianomâmis, o que representa um aumento de 6% em relação ao ano anterior, conforme o Ministério da Saúde.
“A gente não está feliz, porque todo dia está morrendo parentes, sendo assassinados, sendo atacados, lutando pelos seus territórios, onde um dia que os povos originários nesse nosso Brasil fomos donos de tudo, e hoje, por um pedaço de terra, é preciso derramar muito sangue indígena. A gente não quer isso, a gente não quer mais nenhuma gota de sangue derramada. Então, assim, a gente não tem muito o que comemorar, por ser um dia especial para toda nação indígena, mas a comemoração é de clamor”, avalia.