Homem que matou médico de Lajedão disse que conheceu a vítima no Tinder
A Polícia Civil vai pedir à Justiça que transforme em preventiva a prisão temporária de Carlos Magno Santana, assassino confesso do médico Aloísio Vieira da Silva, 29 anos, crime ocorrido na noite de sábado para domingo, 26 de março, no apartamento da vítima no Centro da cidade de Montanha, no extremo Noroeste do Espírito Santo.
Enquanto o corpo de Aloísio era sepultado em Lajedão (BA), de onde ele saiu para estudar no Espírito Santo, passando pelo curso de Metalurgia do IFES e concluindo Medicina na UFES em 2020, o chefe da Polícia Civil do Espírito Santo, José Darcy Arruda, o delegado Eduardo Motta, de Montanha, e o major Gambarti, comandante da 19ª Companhia Independente da Polícia Militar em Pinheiros, participavam de uma entrevista coletiva na Chefatura da PC em Vitória para dar mais detalhes do crime.
A informação sobre o pedido de manutenção da prisão de Carlos Magno foi dada pelo próprio delegado Motta para que a Polícia Civil possa dar prosseguimento às investigações para levantar outros detalhes técnicos sobre o crime, como a perícia do telefone da vítima para saber se eles já se conheciam e mantinham algum tipo de relacionamento, bem como o laudo cadavérico para confirmar se houve ato sexual entre o criminoso e a vítima antes do crime.
“O autor confesso do crime em nenhum momento negou sua culpa, mas disse que o médico foi buscá-lo em Conceição da Barra e que foi a primeira vez que eles se encontraram (após contato pelo aplicativo Tinder). Entretanto, informações pelo telefone 181 (Disque-Denúncia) dão conta de que os dois já haviam sido vistos anteriormente juntos em Conceição da Barra”, disse o delegado.
SOCIOPATA
O delegado Arruda disse que não havia nada a comemorar, apesar da rapidez na ação da polícia após o crime para chegar ao seu autor, e salientou a importância de “as pessoas tomarem cuidado em determinadas situações, pois não é a primeira vez que isso acontece”. Referia-se ao fato de o médico ter marcado encontro com uma pessoa que ele não conhecia, levando-a para sua casa e, com isso, levando à tragédia deste final de semana.
Como Carlos Magno já tinha passagens pela polícia, e a última delas foi por estelionato, Arruda observou traços de sociopatia no autor da morte do médico Aloísio. “Ele demonstrou personalidade fria, estava no bar, bebendo, sem demonstrar qualquer remorso. A motivação para o crime foi somente patrimonial, queria dinheiro, queria curtir”, comentou o delegado, o que combina com as observações feitas pela reportagem da Tribuna Norte-Leste com base nas postagens de Carlos Magno em seu perfil do instagram.
Ainda de acordo com o chefe de Polícia, “as forças se juntaram, a Polícia Militar e a Polícia Civil, a divisão de inteligência trabalhou forte, usando toda a tecnologia que hoje o Governo colocou à disposição das polícias. O cerco eletrônico foi fundamental para que se pudesse monitorar o veículo e cada passo do então suspeito. E a unidade entre as corporações foi fundamental: se não fosse a integração que elas têm na região Noroeste, dificilmente a gente conseguiria esse êxito de prender o suspeito em poucas horas após a descoberta do crime”.
Além da atuação das forças policiais estaduais, o chefe de Polícia disse que teve a preocupação de integrar outras polícias: “Liguei para o superintendente e pedi para colocar na rua todo o nosso pessoal, tirar de casa, do churrasco. Dar a resposta era prioridade. Liguei para o delegado de Teixeira de Freitas e pedi para cercar a Bahia, fiz contato também com a PRF. Ele estava cercado”.
COMO FOI
O delegado Eduardo Motta, que responde por Montanha e também Pinheiros, relatou que logo de manhã a Polícia recebeu a informação de que o médico foi encontrado morto. Não apareceu para o plantão em São Mateus, os colegas não conseguiam falar e amigos foram à casa dele, segundo o delegado. “O proprietário do imóvel fez a gentileza de abrir a porta para os amigos, que o encontraram morto com sinais de violência”, observou.
Os próprios policiais que foram ao local acionaram a perícia e se juntaram para ir a campo atrás de indícios de autoria, “já que a materialidade do crime estava comprovada”. Os amigos deram a falta imediata do celular e do notebook do médico e a polícia partiu da premissa do latrocínio, sem afastar a hipótese de que poderia ter sido uma estratégia do autor para despistar as investigações.
Em seguida, os amigos deram conta de que o carro de Aloísio Vieira da Silva também não estava no estacionamento: “Uma testemunha, vizinha a ele, disse que viu o carro sair de madrugada. Ouviu o barulho, olhou pela janela e viu o carro saindo normalmente. Era madrugada de domingo. Ninguém reportou qualquer barulho que pudesse indicar briga entre o médico e o seu assassino”.
A partir das imagens de câmeras de segurança tinha-se um indicador da autoria e o cerco eletrônico foi acionado: “Por volta das 5 horas da manhã houve o registro do carro trafegando em direção a Conceição da Barra. A Polícia Militar do 13º Batalhão de São Mateus começou a fazer buscas e o pessoal da delegacia de Conceição da Barra passou a dar apoio. Quando eles pegaram as imagens do prédio do médico, com a chegada e saída do suspeito, já identificaram de quem se tratava, pois ele era conhecido na cidade e as informações foram logo passadas à inteligência da Polícia”.
Segundo o delegado Motta, informações começaram a chegar também através do Disque-Denúncia e passaram a ser checadas. Uma pessoa informou que Carlos Magno já tinha tido contato anterior com a vítima. Uma pequena informação nessa hora pode ser preciosa. A equipe de Conceição da Barra já sabia o endereço dele, tanto urbano quanto rural, mas nem precisou ir nos domicílios, pois a essa altura ele já estava no nosso radar, o carro estava se deslocando. Apareceu uma imagem no sentido à Bahia e tememos que ele estivesse em fuga”.
Mas o ainda suspeito não parecia muito preocupado e até fez postagens em suas redes sociais dentro do carro roubado do médico. “Encontramos ele tranquilamente no bairro Cobraice, em Conceição da Barra. Os policiais chegaram e ele estava bebendo tranquilamente e o carro do lado de fora. Não ofereceu a menor resistência. Confessou a autoria do crime e levou a equipe até o local onde enterrou, com muita calma, os pertences do médico no meio de uma plantação de eucaliptos, entre a BR 101 e a entrada de Conceição da Barra”, disse o delegado.
Com Carlos Magnos foram encontradas a carteira do médico, o carro e dinheiro. O celular, o notebook e outros objetos tinham sido embalados e enterrados.” Agora, vamos prosseguir na investigação, vamos pegar o telefone, fazer perícia, levantar tudo o que for necessário, inclusive se ele usou o cartão de crédito”, acrescentou. “Ao que tudo indica, ele já foi ao encontro com médico com a intenção de matar e roubar”.
O major Gambarti disse que o crime causou grande comoção na região e enalteceu o trabalho integrado entre a PM e a PC. “É sempre importante ressaltar essa integração, que faz parte de um dos eixos do Programa Estado Presente”, disse o oficial.