Especial Dia das Crianças: “Uma Saudade”, por Domingos Cajueiro Correia Saudades
Saudades do tempo da minha infância na fazenda dos meus pais. Cinco horas da manhã e, ele batendo na porta do meu quarto gritando:
“Acorde menino, vamos cuidar dos porcos, não é hora de estar dormindo, vamos, acorde!”
Parece que ele se esquecia que eu estava de férias.
Quando eu chegava a cozinha, já sentia o cheirinho do café da mamãe, temperado com rapadura ou melado de cana, logo descia o quintal para ajudar meu pai, Sr. Isael de Freitas Correia, a cuidar dos bichos. Logo depois, lá estava eu, em cima da cerca do curral esperando meu pai tirar leite das vacas, ansioso para beber leite espumante tirado na hora.
Que saudades!
Saudades das tardes de verão, em que junto com meus irmãos e amigos, passávamos horas em cima das laranjeiras e jaqueiras disputando para ver quem conseguia chupar mais laranjas.
Saudades dos banhos no Rio Itanhém, que tinha à alcunha de Rio Alcobaça, sem nos preocuparmos se o rio oferecia algum perigo ou não, longe dos cuidados dos nossos pais, preocupados apenas em pegar piabas, e encher as garrafas.
Saudades da Casa do Engenho tocado por uma junta de bois nos arredores do futuro 13º Batalhão, onde tomávamos a deliciosa garapa de cana e saboreava a rapadura.
Saudades da Casa de Roda onde se fazia farinha de mandioca, e eu ansioso por um beiju de goma, recheado de coco e umedecido de leite daquele fruto, corria até a cozinha e pegava pão trazido do Centro da primeira padaria do nosso povoado, do Sr. João Palmeira Guerra, e dava às mulheres em troca dos beijus.
Saudades da minha escola de madeira erguida a um metro do chão batido, não havia carteiras, eram bancos que trazíamos de casa, e quando foram feitas as carteiras eram para quatro ou cinco meninos. Por ordem e apoio dos nossos pais, usava a palmatória, a régua e até a varinha de bambu, além do castigo de botar de joelho, para manter a disciplina e deixar o saber na cabeça da meninada.
Saudades da estufa para secar cacau, devido às fortes chuvas que caíam em nossa região, meu pai teve a iniciativa de mandar construir precisamente na localidade do Posto Aries, atualmente Posto Gaivota, este secador de cacau. Depois de 12 horas de trabalho duro com temperatura elevada, aquelas amêndoas pisoteadas e secas no forno, estavam qualificadas para serem comercializadas em Alcobaça, Prado ou Caravelas.
Ressalto como a vida era difícil, meu pai adquiria esses fornos de aço em Juerana, vindos de Teófilo Otoni, Minas Gerais, na Maria Fumaça (trem de ferro) e, para chegar, aqui no povoado, era no lombo dos animais depois de um ou dois dias de viagem.
Como era maravilhoso, contemplar os verdes das florestas, o barulho das águas, o canto dos pássaros, que: ao adentrar a floresta das Fazendas Conquista e Nova América podia apreciar meu pai coletar o vinho do Jitaí ou Jatobá, dando um pequeno corte preservando a madeira e sugando aquele líquido precioso que era medicinal.
Tempos que não voltam, mais que nunca esquecerei.
Saudades do meu irmão Gutemberg (in memoriam 22/09/2022).