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Trabalhadores da EMFLORA entram em greve: SINTREXBEM questiona política salarial e acusa Suzano de prática Discriminatórias

08/10/2024 - 08h58Por:

No dia 01 de outubro, cerca de 200 trabalhadores da empresa EMFLORA, prestadora de serviços da Suzano S/A, paralisaram suas atividades em protesto contra as condições salariais impostas pela empresa. O Sindicato dos Trabalhadores da Extração da Madeira do Extremo Sul da Bahia – SINTREXBEM, entidade que representa a categoria, informou que a principal pauta da greve é a reivindicação de um reajuste salarial digno, que mantenha os salários dos trabalhadores acima do salário mínimo nacional.

De acordo com o SINTREXBEM, a política salarial atual ameaça colocar os trabalhadores em uma situação desfavorável a partir de janeiro, quando o governo federal reajustar o valor do salário mínimo. “Se o quadro atual não for revertido, os trabalhadores da EMFLORA terão remunerações inferiores ao mínimo legal, o que é inaceitável para uma empresa com o porte e a abrangência da EMFLORA”, critica o sindicato.

Salário mínimo não é parâmetro aceitável para multinacionais

O SINTREXBEM destaca que é vergonhoso falar em salários baseados no mínimo nacional para trabalhadores de uma empresa que opera em diversos estados e atua como prestadora de serviços da Suzano S/A — a maior produtora mundial de celulose de eucalipto. “É inconcebível que uma empresa desse porte, que lucra bilhões anualmente e está associada a iniciativas globais de promoção do trabalho decente, pratique uma remuneração tão baixa”, afirmou a entidade.

Recentemente, a Suzano anunciou parceria estratégica com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e o Pacto Global da ONU para promover condições dignas de trabalho em sua cadeia produtiva. Em nota oficial, a empresa se comprometeu a enfrentar um dos maiores desafios do setor florestal: as precárias condições laborais, especialmente em regiões mais afastadas. O SINTREXBEM, no entanto, questiona a coerência desse discurso frente à realidade enfrentada pelos trabalhadores terceirizados da EMFLORA, prestadora de serviços diretamente ligada à Suzano.

Disparidade salarial e possível discriminação

Outro ponto de grande indignação entre os trabalhadores é a discrepância salarial entre os funcionários da EMFLORA. Os trabalhadores de Aracruz (ES) recebem, em média, 60% a mais que os colegas da Bahia. “O que justifica tamanha disparidade? Será que os trabalhadores do Sudeste são considerados superiores aos do Nordeste? Ou existe algum tipo de preconceito que coloca os trabalhadores baianos — majoritariamente negros — em desvantagem?”, questiona o SINTREXBEM, levantando suspeitas de discriminação e até de racismo estrutural.

“O preconceito contra os nordestinos e a população negra é uma questão histórica no Brasil, e ver uma empresa do porte da Suzano compactuar com essa prática, ainda que de maneira indireta, é revoltante”, denunciou Silvânio Oliveira Diretor do SINTREXBEM. “O discurso de uniformização e equidade parece, no mínimo, contraditório, considerando o que enfrentamos no dia a dia”, completou.

Valor recebido por trabalhador em Aracruz – ES

Valor recebido por trabalhador na Bahia

Discurso e prática: um abismo de incoerências

O sindicato relembra uma recente entrevista de Fernando Bertolucci, vice-presidente de Sustentabilidade e Inovação da Suzano, na qual ele afirma que “o objetivo da parceria é uniformizar as condições de trabalho ao longo de toda a cadeia de valor, proporcionando mais equidade e eficiência”. Para o SINTREXBEM, a distância entre o discurso e a prática é flagrante: “Se a Suzano realmente quer ser um exemplo de boas práticas e sustentabilidade, precisa começar garantindo condições dignas e igualdade de tratamento para todos os trabalhadores da sua cadeia produtiva”, critica.

Até o momento, a EMFLORA e a Suzano S/A não se manifestaram oficialmente sobre as reivindicações dos trabalhadores. A greve continua e deve se intensificar nos próximos dias, com o apoio do SINTREXBEM e de outras entidades sindicais da região e da cadeia produtiva.

A situação expõe a complexidade das relações trabalhistas no setor florestal brasileiro, em que empresas globalmente respeitadas pela “responsabilidade social” frequentemente são cobradas por práticas incoerentes com os discursos de sustentabilidade e respeito aos direitos humanos. Resta saber se a Suzano vai, de fato, agir de acordo com os compromissos internacionais que assumiu ou se os trabalhadores da EMFLORA continuarão a ser tratados como peças de menor valor em uma engrenagem bilionária.


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