Sem acordo, mesa de negociação entre MST e Suzano é remarcada para a próxima quinta-feira
O governo federal remarcou para a próxima quinta-feira, 16 de março, uma nova reunião para tentar resolver o conflito agrário entre o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e a empresa Suzano no sul da Bahia. O anúncio foi feito pelo ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Paulo Teixeira, após a tentativa de negociação desta quarta-feira (8) não ter tido sucesso.
A reunião de ontem ocorreu sob a condição de desocupação de três terras da Suzano, entre elas Mucuri, Teixeira de Freitas e Caravelas, todas localizadas na região do extremo sul do estado. Em nota, o MST disse que a reintegração de posse ocorreu de forma pacífica, na terça-feira (7), e foi acompanhada pela Assistência Social, muitos policiais militares (CAEMA) e pelos seguranças da empresa. Os trabalhadores rurais presentes seguiram para acampamentos vizinhos.
Ao todo, cerca de 1.500 membros do MST ocuparam fazendas de eucalipto da Suzano, que produz papel e celulose. A principal reivindicação do movimento é que a empresa tem descumprido a cessão de terras a 650 famílias, em acordo atualizado pela última vez em 2017, de acordo com o MDA. A mesa de negociação teve início em 2011, durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), mas foi paralisada após a posse de Michel Temer (MDB).
Até a data da primeira reunião da mesa, segundo o ministro, as partes vão estudar os termos do acordo firmado entre empresa e movimento social.
— Todos nós vamos trabalhar pelo cumprimento do acordo. Todos nós queremos paz no campo, queremos uma relação de diálogo para solução de eventuais conflitos. O respeito ao direito à propriedade será uma tônica desses atores. A Suzano reconhece as obrigações assumidas no acordo e, agora, vai discutir os meios de execução com o governo federal — disse Paulo Teixeira.
Na última quinta-feira (2), o ministro já havia se reunido com representantes da empresa Suzano para tratar de conflitos agrários.
O GLOBO procurou a Suzano para saber quais as condições da companhia para a concessão de terras, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.
A diretora do MST na Bahia, Eliane Oliveira, criticou a atuação da empresa de celulose no estado, afirmando que “70% das áreas agricultáveis estão sob domínio da Suzano, que está nesse território há mais de três décadas, causando problemas ambientais e sociais seríssimos”.
— As famílias que moram nas áreas próximas das instalações da papeleira sofrem com a pulverização aérea de agrotóxicos, com o sumiço das abelhas, com os problemas relacionados à escassez hídrica e envenenamento das águas nos municípios, tudo isso como impacto do deserto verde dos eucaliptos — afirma.
Além dos trabalhadores rurais, do MDA e da Suzano, o governo da Bahia participou da reunião de negociação. A reportagem também procurou o estado, que não respondeu.