Pikititos: Conheça a história do biscoito fabricado em Teixeira que marcou uma geração

Você provavelmente conhece ou já ouviu falar sobre o Pikititos. O biscoito, produzido em Teixeira de Freitas, marcou toda uma geração, que ainda relembra com nostalgia da época em que garimpava nas prateleiras do supermercado, os pacotes que poderiam vir com o esperado bombom de brinde. Pensando no carinho que os consumidores mantêm até hoje pelo produto, o SulBahiaNews procurou o empresário Paulo Sérgio Cruz, proprietário da marca, para saber um pouco sobre o início e o fim da Pikititos.
A ideia de produzir o biscoito nasceu de uma conversa, em uma roda de amigos, durante uma viagem de Paulo Sérgio ao Espírito Santo, onde o empresário Antônio Carlos, o “Louro”, cogitou a ideia de realizar o aproveitamento do subproduto dos bombons produzidos pela Garoto, em Vila Velha, que acabavam sendo descartados. Por se tratar de um produto de tamanho muito pequeno, surgiu o nome “Pikititos”.
Inicialmente, o biscoito era resultado de uma parte do processo de produção do bombom Serenata de Amor, e consistia no produto de uma placa de biscoito waffer, com várias pequenas metades de uma “bola”. O característico recheio do bombom, feito com leite em pó, açúcar muito refinado e farinha de castanha de caju, cobria toda a placa do biscoito e posteriormente passava por uma esteira, que conduzia esta placa a outro segmento da linha de produção, onde elas eram sobrepostas, colando-se umas às outras. Ao ser recortado o bombom gerava aparas em formato de estrelinha, que foi o primeiro formato do Pikititos.
Era muito comum que ocorresse de as placas se quebrarem e eventualmente o produto vir junto com o recheio do bombom, e sabendo que isso era uma espécie de prêmio ao consumidor, Paulo fazia questão de que fossem embaladas junto com o produto.
Desde o início da produção, existia uma preocupação muito grande com a qualidade do produto oferecido, por isso, o empresário conta que costumava mentir para os colaboradores, dizendo que naquela semana a vigilância sanitária faria inspeções na fábrica, como uma forma de impulsionar a equipe a manter toda a produção ainda mais cautelosa e higiênica.
“Tínhamos reuniões constantes com os funcionários e o lema era: Se eu não comer, se vocês não comem, então não serve pra vender”, conta Paulo Sérgio.
Com o passar do tempo, a Garoto parou de fornecer os insumos para consumo humano, e o produto que era chamado de “aparas”, passou a ser chamado de “inservíveis”. Nessa época, a Pikititos precisou interromper a produção. No entanto, “Louro”, que deu a ideia inicial da marca, passou a fabricar waffer, o conhecido “Mirabel”, e nesta fábrica também eram geradas aparas, que acabavam sendo descartadas no lixo, foi quando o Pikititos ganhou um novo formato.
“Me disseram que o produto era feio, que não ia dar certo, e ao invés de me vender, disseram para eu encher o carro e trazer. Na época eu tinha batido meu carro, que estava na oficina, paguei o conserto e enchi a carroceria com os sacos. No fim, depois que eu produzi tudo, o valor que deu foi justamente o valor da viagem e do conserto do veículo”, relembra.
Paulo conta que a primeira sede da empresa foi na garagem da casa dos pais, onde ele produziu as primeiras 800 unidades do biscoito, e relembra que todas as 800 embalagens foram pintadas à mão, uma a uma, e colocadas no varal para secar.
“Eu mesmo embalei essas 800 unidades e saí pra vender. A primeira cidade que eu usei como teste foi Caravelas, eu espalhei aquele produto na cidade, na notinha, e disse que voltava em 15 dias para receber, caso eles vendessem. Quando eu voltei me disseram que tinham vendido tudo em quatro dias, ali eu tive certeza que ia dar certo”, relata.
Nos cinco primeiros meses, toda a produção era realizada pelo empresário, da captação do material ao empacotamento e entrega:
“Trabalhava das 6 até às 3 horas da manhã, dormia por 3 horas e saía para fazer as entregas, sábado e domingo eu aproveitava para empacotar. Para aguentar dirigir, eu pegava uma garrafa pet de 2 litros com água, e ia molhando o rosto e o corpo pelo caminho, para dissuadir o sono”, conta emocionado.
A partir das primeiras 6 toneladas vendidas em tempo recorde, a empresa começou a receber uma enorme demanda, passando a fornecer o produto para parte da Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo. A empresa chegou a operar com 25 funcionários, trabalhando em dois turnos. Nesse ponto, as aparas já eram fornecidas por empresas do Brasil inteiro.
O FIM DA PIKITITOS
A modernização dos equipamentos dificultou a produção do biscoito. Isso porque passou a ser desinteressante para o fabricante manter um modelo obsoleto de máquinas, que geravam muito desperdício e quebravam com muita frequência. Nos modelos antigos, o forno recebia placas pequenas, de no máximo 40 centímetros, mas com a modernização, as placas passaram para um tamanho muito maior, o que acabou gerando menos quebras e praticamente nenhuma apara.
“Ficou inviável. As quebras que acabavam tendo eram tão poucas que já não valia mais a pena o frete, a logística, toda a despesa, então o Pikititos acabou pela segunda vez”, explica.
Na tentativa de manter a produção do biscoito, o empresário conta que adquiriu as máquinas do modelo antigo, que eram utilizadas pelas empresas, e o Pikititos passou a ser produzido 100% em Teixeira de Freitas.
“Qual era o segredo para o Pikititos ser tão bom? O segredo era que no momento da prensa do biscoito, as placas ‘esburravam’ o excesso de chocolate pra fora, ele vai para uma outra máquina que corta e tira essas aparas. Então elas vinham muito ‘sujas’ de chocolate, por isso que fazia tanto sucesso. Quando eu comecei a fabricar, não consegui manter a mesma qualidade de antes, pois vinha cheio de chocolate, e se eu fizesse assim, não aguentaria os custos”, explica Paulo.
Nessa época, o waffer passou a ser mais acessível, com o advento de empresas menores que entraram no ramo, no entanto, com a mão de obra cara, a matéria prima que vinha de fora, passou a ser inviável competir com outras empresas, e dessa forma, o produto deixou de ser fabricado, hoje existindo apenas na memória dos consumidores.
“A verdade é que a grande ruína da Pikititos foi a tecnologia”, finaliza.