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Anativo José – ‘Marotinho’: o pioneiro que emprestou seu nome a um bairro em Itamaraju

30/06/2020 - 16h18Por: Elias Botelho

No dia 8 de setembro, do ano de 1926, nascia mais um baiano em Cruz das Almas. Filho de família humilde, não teve tempo para escolher o seu destino. A necessidade, desde seus primeiros anos de vida, o levou a fazer de tudo para sobreviver.

Aos dezoito anos, sob um sol ardente, deixou para trás a família, os amigos e alguns sonhos. Com muitas dúvidas na alma e um caminho incerto pela frente, só conseguiu enxergar a poeira da saudade. Aos poucos, o Recôncavo baiano deixou de fazer parte do seu imaginário. Agora somente as esperanças encheram o seu embornal feito de tecido comum.

Depois de alguns cansados dias de viagem, desembarcou no velho “Escondido”. Assustou-se com tanto verde das matas que cobria o solo fértil do Extremo Sul da Bahia. Aqui conheceu o cacau que se espalhava  debaixo das imensas árvores agarradas aos pés de serras e baixadas. Viu um mundo diverso daquele ao qual estava acostumado.

Fechou os olhos e lembrou-se das palavras do velho pai: “Filho meu tem que dar duro. Tem que trabalhar desde cedo pra virar homem caprichoso. Tem que dar valor ao pirão que come. Sem fazer nada, fica mal acostumado e pode dar pra ruim. Todo mundo faz isso e não morre, ora por quê?”. Com essas palavras na cabeça, partiu para a labuta.

Conheceu Maria D’ Ajuda pela qual se apaixonou e se casou. Desse casamento idílico nasceram 8 filhos que dizia serem bênçãos de Deus! O respeito à família era inviolável. Pronunciava sempre aos seus familiares que “todos precisam respeitar para serem respeitados. Que a igualdade, a honestidade e a amizade verdadeira conduzem as pessoas a uma harmonia plena. E que a sabedoria é a forma mais fácil de resolver as adversidades da vida”.

Permaneceu por exatos 30 anos prestando seus serviços na fazenda do senhor Walter Carvalho, o segundo prefeito de Itamaraju, ao mesmo tempo em que realizava um dos seus sonhos: adquiriu seu primeiro pedaço de terra. Não demorou e se tornou um bem-sucedido produtor de cacau. Mas foi na sua Chácara,  às margens do Rio do Ouro (hoje ARVO), que viveu momentos de grandes alegrias com seus filhos e amigos nos finais de semana.

Nunca quis se candidatar a cargo eletivo, mas não se olvidou do seu dever de cidadão. Participou ativamente da vida política da terra que escolheu como sua. Foi para alguns, um “analista político” “à la roçariano”, devido aos seus palpites, nem sempre parciais, mas com feições de sabedoria.

Das muitas de suas diversões uma era imprescindível: “a pelada”. Sem nenhuma modéstia, se gabava  sempre por ter talento para o futebol. E aí, tinha alguém para dizer o contrário? Bom, deixa pra lá! Bom mesmo era ver sua torcida ao seu time do coração. Uns diziam que era fanático, outros diziam que era “doente” pelo rubro-negro carioca. Verdade é que não media esforços para se deslocar de Itamaraju até o Rio de Janeiro para ver o Flamengo jogar. Isso dizia tudo.

Sem sombra de dúvidas, um dos seus desejos era ver Itamaraju se tornar um município próspero e bonito de que todos pudessem se orgulhar. Tanto que, sem uma instrução maior, não deixou de contribuir para o esporte e a cultura em geral de sua comunidade.

Mas foi numa terça-feira do dia 20/01/1981: um final de tarde, uma reta, um caminhão, um precipício e um fim de um sonho. O homem que foi um gigante de civilidade, urbanidade, honradez, lealdade e honestidade, nos deixou. Medindo apenas 1,54 cm de altura, deixou um acervo de boas ações para ser seguido. Emprestou seu nome a um bairro da cidade. E ao contrário da carinhosa alcunha, nada tinha de malicioso ou outro adjetivo, era Anativo José dos Santos, ou simplesmente: MAROTINHO – que se definia usando um pensamento de Fernando Pessoa: “Eu sou do tamanho daquilo que vejo, e não do tamanho da minha altura”.

Foto: Helena Marotinho

Crônica: Elias Botelho (Escritor itamarajuense)

Publicação: Página – Itamaraju – Bahia


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Domingos Cajueiro Correia, de 65 anos, é o primeiro policial rodoviário a se formar no município. Ele faz parte de uma família que leva consigo a história de Teixeira de Freitas, desde quando era um pequeno povoado até a sua criação, e que contribuiu para o desenvolvimento do município. Hoje, além de atuar nas rodovias, ele dedica seu tempo para contar relatos narrados por seus familiares. Aproveitem este espaço que vai mostrar curiosidades que muitos teixeirenses desconhecem.

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