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O que faz alguém permanecer em um relacionamento infeliz?

14/05/2019 - 07h29Por: Sulbahianews/Gleide de Sousa

Os relacionamentos fazem parte das nossas vidas desde o início do nosso nascimento. Nossas primeiras relações se deram a partir da convivência com nossos pais ou cuidadores. Quando nascemos fomos inseridos dentro de uma cultura e foi por esse viés que fomos constituídos enquanto ser humano, aprendemos uma determinada língua, aprendemos valores morais e éticos e assim por diante. Dentre esses aprendizados também aprendemos sobre nosso lugar nos relacionamentos. Crescemos e nos envolvemos em algum relacionamento amoroso e a maneira como assumimos nosso lugar nesses relacionamentos está vinculado às experiências que vivenciamos na infância.

Há pessoas que se envolvem em relacionamentos onde são constantemente depreciadas, humilhadas e ainda assim permanecem nessas relações mesmo com um profundo sentimento de infelicidade e insatisfação. A primeira coisa que nos perguntamos é: Se o relacionamento é tão ruim o que faz alguém permanecer nele? O natural é que acontecesse uma separação. No entanto, embora pareça simples na realidade não é tão fácil assim sair de um relacionamento ainda que esteja infeliz. É comum pessoas que vivem um relacionamento desastroso passar por algum tipo de julgamento seja dos amigos, dos familiares ou outros com frases do tipo, ela gosta de sofrer, gosta de apanhar, só gosta de quem não presta, eu teria vergonha, etc. Você já ouviu alguma dessas frases ou mesmo outra nesse contexto? Ou melhor, você já pensou isso de alguém? Já disse isso para alguém?

A maneira como vivenciamos nossas primeiras relações infantis irão nos marcar de forma determinante. O amor é uma relação que também envolve ódio e o ódio também inclui amor. A violência pode ter sido introjetada na infância como um ato de amor.  Então, na fase adulta a pessoa entende que a opressão é uma forma de amar, logo ela é amada através da violência e sente prazer nessa relação masoquista e ao mesmo tenta diminuir sua culpa por algo que ela acredita que tenha feito. Há diversas consequências para essa forma de se relacionar, desde ser constantemente rebaixada, maltratada pelo parceiro, ser agredida verbalmente tanto em casa quanto na frente de outras pessoas como amigos e familiares, agressão física podendo levar até a morte. Há uma romantização nas relações destrutivas o que dificulta perceber essa relação como tal. Entendemos as ações violentas do parceiro como um gesto de amor. É importante salientar que aqui estamos falando do sujeito do inconsciente, ou seja, significa que ele/ela não tem acesso a essas informações a nível consciente.

Embora os homens também sofram humilhações em seus relacionamentos podemos dizer que são as mulheres que sofrem maior violência no que tange a relacionamento. Homens e mulheres ocupam lugares diferentes nas relações. O que é ser mulher? Apesar de termos conseguido nas últimas décadas grandes avanços com relação aos direitos da mulher na sociedade não podemos dizer que essa batalha tenha chagado ao fim. Desta forma, entendemos que os homens e as mulheres são educados de uma maneira diferente ainda hoje. As meninas são ensinadas a serem delicadas, boa mãe, simples, recatada e submissa. Carregam também a responsabilidade do relacionamento “dar certo”. A mulher é imposta uma feminilidade que está ligado a atos como, se depilar, usar maquiagem, usar salto, usar determinadas roupas, etc. Essas questões irão atravessar os relacionamentos dessas mulheres. E quando elas se verem diante de uma relação de sofrimento o peso do que significa ser mulher influenciará nas suas decisões. Sair de um relacionamento infeliz pode significar para essa pessoa que ela não tem feminilidade.

O sintoma é o fato de permanecer nesse tipo de relação que causa sofrimento. O sintoma é algo que fala da pessoa, tem um significado é uma verdade sobre o sujeito que revela seu desejo inconsciente aparecendo de uma maneira enigmática. Pois, como entender alguém que permanece num relacionamento destrutivo? Há também a questão da repetição, costumamos repetir a mesma situação sem nos darmos conta disso. Por exemplo, normalmente mulheres que tem parceiros violentos costumam sempre escolher e se envolver com pessoas agressivas. Mas, então, será que é possível sair desse tipo de relação? Sim, porém para que isso aconteça a pessoa precisa se dar conta de que está numa relação destrutiva e apesar disso parecer óbvio para quem está a sua volta não é assim que a pessoa dentro desse tipo de relação se vê. Para obter ajuda, primeiro ela precisa entender que precisa de ajuda isso parece algo simples de resolver, mas não é tão fácil e nítido assim, algumas pessoas passam a vida inteira vivendo dessa maneira e outras conseguem se dá conta de que o ganho é menor do que a condição de sofrimento imposta pela relação. Perceber que está numa relação destrutiva é o primeiro passo para buscar ajuda, como vimos isso não é uma tarefa tão simples, pois a pessoa pode se acomodar com o sofrimento levando em consideração a vida financeira ao lado parceiro, a dependência emocional. Podemos ouvir frases do tipo: pelo menos eu tenho alguém, nunca vou conseguir outra pessoa, como vou me sustentar? Essas são algumas frases que a pessoa pode pensar sobre sua situação. Algumas pessoas conseguem sair sozinhas quando se dão conta do que estão vivendo e daí procuram ajuda para lidar com o processo. A busca por ajuda só acontece quando a pessoa percebe sua relação como abusiva, destrutiva. Entender o que te faz permanecer nessa relação, porque não consegue sair são algumas das questões trabalhadas na psicoterapia. É possível através da terapia numa escuta e espaço de fala re-significar seu sintoma e a partir daí encontrar novas maneiras de lidar com suas questões.

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PARA SABER MAIS ACESSE:

SOUZA, THARSO PEIXOTO SANTOS E. O lugar do desejo feminino frente à violência. Belo Horizonte • ano 33 • n. 62 • p. 85 – 92 • Set. 2011.

PINTO, EVELYN GONÇALVES DE ARRUDA. As relações afetivas das mulheres vítimas de violência doméstica: um olhar psicanalítico

BERTHONE, RODRIGO. Psicanalista explica como identificar relacionamentos tóxicos e o que fazer para sair deles. Disponível em: https://oglobo.globo.com/rio/bairros/psicanalista-explica-como-identificar-relacionamentos-toxicos-o-que-fazer-para-sair-deles-22809050 Acesso em: 12/05/19.

Por Gleide de Sousa.

Psicóloga Clínica CRP 03/19354;

Pós – graduanda em Psicologia Organizacional (FDA)

Podem mandar dúvidas ou sugestões para o e-mail: gleidegs22@gmail.com

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Ou pelo Instagram: @gleide_sousa_psicologa


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