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Fatos Históricos: A ferrovia que colocou Caravelas na linha do desenvolvimento do Brasil

02/04/2019 - 11h43Por: Sulbahianews/Uinderlei Guimarães

Ponta de Areia (BA), Teófilo Otoni (MG) e Araçuaí (MG) – Os verdes olhos de Glair Farina, de 71 anos, enxergam o passado toda vez que o ex-ferroviário observa, incrédulo, “o descanso para sempre” da Pochixá, exposta na Praça Tiradentes, em Teófilo Otoni, a 450 quilômetros de Belo Horizonte.

A maria-fumaça é um dos poucos símbolos que restaram da Bahia-Minas, a ferrovia aberta para levar o milagre econômico ao Vale do Jequitinhonha e a um pedaço do Sul da Bahia, duas das regiões mais carentes do Brasil.

A Baiminas, como moradores se referem à linha, foi inaugurada em 1881 e desativada em 1966. Seus 578 quilômetros ligaram o Jequitinhonha ao Atlântico, de Araçuaí a Ponta de Areia, onde os trilhos desembocavam num porto que recebia navios da costa do Sudeste. O sertão se tornou parceiro comercial de grandes centros. Mas não foi só por isso que a ferrovia se tornou um marco na economia.

À medida que os trilhos avançavam, povoados e cidades eram fundados. Foi assim que a ferrovia atraiu aportes, fomentou a geração de empregos e estimulou o plantio em terras até então inóspitas. O progresso puxado pela maria-fumaça é descrito por vários pesquisadores. Jaime Gomes, autor de Um trem passou em minha vida, destacou que “milhares de pessoas se deslocaram para aquela região. (…) Montaram engenhos, serrarias e olarias; fundaram vilas, povoados e até cidades. Parte do Sul baiano e do Nordeste mineiro prosperaram, milagrosamente”.

O avanço econômico é mostrado em números. De 1935 a 1944, por exemplo, o volume nos vagões de carga passou de 76.874 toneladas para 174.161 toneladas (aumento de 126%). O total de passageiros subiu em escala maior num período menor, de 51,3 mil pessoas em 1935 para 373 mil homens e mulheres em 1940 (acréscimo de 627%).

Mas a má gestão, a corrupção e a precipitada decisão do governo militar de apostar no avanço das rodovias, em detrimento das estradas de ferro, decretaram o fim da linha. Em muitas cidades e povoados o progresso foi embora.

De uma ponta a outra: A viagem que virou música

Sete anos depois de a ferrovia ser desativada, Fernando Brant (1946-2015) percorreu o trecho para uma reportagem publicada na revista O Cruzeiro. O antes e o depois da Baiminas inspiraram o parceiro de Milton Nascimento a compor Ponta de Areia, nome do distrito Caravelense, ponto final da linha, no Sul baiano.

Brant reparou o quanto praças ficaram vazias sem as locomotivas e os vagões. E lamentou o destino de velhos maquinistas. Os versos soam como saudade aos mais antigos: “Ponta de Areia, ponto final/ Da Bahia-Minas, estrada natural/ Que ligava Minas ao porto, ao mar/ Caminho de ferro mandaram arrancar/ Velho maquinista com seu boné/ Lembra do povo alegre que vinha cortejar/ Maria-fumaça não canta mais/ Para moças flores janelas e quintais/ Na praça vazia, um grito, um ai/ Casas esquecidas, viúvas nos portais”.

Linha do Tempo

1880 – Em 26 de agosto, é sancionada a lei imperial que autoriza a construção da Estrada de Ferro Bahia e Minas

1881 – Em 16 de maio, é fixado o primeiro trilho da ferrovia, em Caravelas

1882 –Em 9 de outubro, é feita a primeira viagem num trecho ferroviário entre Minas e Bahia

1882 –Em 9 de novembro, a ferrovia é inaugurada, estando concluído o trecho entre Caravelas e Serra dos Aimorés (MG)

1885 – Crise financeira e falta de dinheiro para pagar empreiteiras interrompem a construção da ferrovia até Teófilo Otoni

1898 – Em 3 de maio, é inaugurada a estação de Teófilo Otoni

1910 – Governo de Minas vende acervo da ferrovia para implementar comércio e indústria na região

1966 – Estrada de Ferro Bahia e Minas deixa de funcionar

2012 – Justiça manda Prefeitura de Araçuaí retirar famílias que ocupam duas estações e preservar os imóveis

*Colaboração/Rony Kely Marques Historiador


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Coluna
Fatos Históricos

Domingos Cajueiro Correia, de 65 anos, é o primeiro policial rodoviário a se formar no município. Ele faz parte de uma família que leva consigo a história de Teixeira de Freitas, desde quando era um pequeno povoado até a sua criação, e que contribuiu para o desenvolvimento do município. Hoje, além de atuar nas rodovias, ele dedica seu tempo para contar relatos narrados por seus familiares. Aproveitem este espaço que vai mostrar curiosidades que muitos teixeirenses desconhecem.

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