Aflição

Alunos convivem com a incerteza do curso de Medicina na UFSB em Teixeira

30/05/2017 - 18h08Por: Sulbahianews/Uinderlei Guimarães

Alunos do Bacharelado Interdisciplinar em Saúde da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB)
, campus Paulo Freire convivem com a incerteza da progressão para Medicina.

O medo é que o tão sonhado curso que deve iniciar em 2018 se torne um pesadelo, principalmente para os alunos da turma de 2014, que finalizam o bacharelado em setembro deste ano.

Os alunos explicam dentre as incertezas está o número de vagas. Ainda segundo eles, na época da inscrição para o Bacharelado foi divulgado que o curso de Medicina já estava aprovado.

Criada em 2013, a Universidade Federal do Sul da Bahia – UFSB adotou um modelo pedagógico inovador, com o objetivo de atender as exigências de uma nova conjuntura econômica e política do Brasil, bem como as especificações sociais e econômicas da região sul do estado da Bahia.

Além de mudar a segmentação dos períodos letivos, com a implantação de um regime quadrimestral, a UFSB fez a remontagem da estrutura curricular de maneira a proporcionar aos estudantes uma formação geral, com vivência em quatro áreas do conhecimento: saúde, artes, ciências e humanidades.

Todos os alunos que ingressam na UFSB cursam a formação geral que tem duração de um ano. No ingresso, os alunos escolhem algum Bacharelado Interdisciplinar – BI ou entram na Área Básica de Ingresso – ABI, em ambos os casos os estudantes irão cursar componentes curriculares que abrangem as quatro áreas.

Por exemplo, na área de saúde, os alunos entram no Bacharelado Interdisciplinar em Saúde e depois desse primeiro ciclo decidem qual curso dessa área irão fazer. Se for à Área Básica de Ingresso, o aluno estuda a formação geral, depois de um ano vai para a formação no BI ou na LI, onde escolherá uma área afim.

No ato da matrícula, eles garantiram que conseguiríamos fazer Medicina, tanto que pela cidade havia vários outdoors ressaltando que o curso havia sido aprovado, não só aqui, como em Porto Seguro e Itabuna, destacou uma aluna.

Apesar da garantia inicial, hoje o próprio site da Universidade deixa dúvidas com relação a oferta de vagas, sem nenhuma documentação oficial existe apenas a especulação entre 32, 64 e as 80 garantidas.

Outro problema alegado é que os alunos da turma de 2014 tiveram que cursar o Bacharelado em três anos e a cada período  surgiram novas matérias. Algumas delas que eram tidas como obrigatórias passaram a ser optativas e outras sequer existem mais.

Os ajustes constantes dos componentes curriculares, ou seja, matéria ou disciplina acadêmica que compõe a grade curricular de um determinado curso de um determinado nível de ensino, teriam prejudicado o rendimento na sala de aula.

A questão é que as turmas de 2015 e 2016 adiantaram o curso e podem se formar também este ano com melhor Coeficiente de Rendimento, o CR, índice que mede, ao longo do curso, o desempenho acadêmico do estudante ao fim de cada período letivo, e que é um dos critérios para seleção de vagas para a progressão do curso de Medicina.

Somente em Teixeira de Freitas, a turma de 2014 possui 65 alunos, 120 na turma do ano de 2015 e outros 60 estudantes na turma de 2016. Os alunos temem que com a possível formação das três turmas em setembro, os quase 250 alunos do Campus Paulo Freire, disputem as 80 vagas com as outras cidades.

Outra reclamação é que na época da instalação da UFSB, o CR seria o único critério usado para seleção de vagas e este ano. Segundo os alunos, este ano foram acrescentadas outras exigências para o crivo, e uma delas seria a Avaliação Nacional Seriada dos Estudantes de Medicina (Anasem), que curiosamente é o exame aplicado para turmas a partir do 2º ano de Medicina.

Nesta segunda-feira, 30 de maio, o Sulbahianews esteve na Universidade e os alunos relataram a angústia de estarem “às escuras”. A aflição a apreensão estariam afetando a saúde mental do alunado. Eles afirmaram que alguns dos estudantes chegaram a apresentar quadro depressivo e outros precisaram se submeter a tratamentos com psicólogos e uso de remédios controlados.

Na última semana, as turmas participaram de uma reunião com assistentes sociais, psicólogos e enfermeiros, depois que uma mensagem com conteúdo indicando quadro depressivo foi deixado de forma estranha por um dos universitários na internet.

Ainda nesta segunda-feira, a reportagem conversou com o decano do curso, Luiz Henrique Guimarães, que falou sobre o assunto e disse ter se reunido como alunado na última semana para tratar sobre as questões relacionadas à progressão para Medicina em uma webconferência com outros campi.

Número de Vagas

De acordo com Luiz Henrique, o MEC realmente autorizou as 80 vagas, no entanto, há uma diferença entre autorizar e ter condições logísticas para disponibilidade do número de vagas garantidas.

O plano original preconiza que a UFSB tenha 669 docentes, mas atualmente, segundo o decano, possui apenas 200. “O Governo Federal não nos autorizou a fazer concursos para suprir as vagas que estão na Lei que criou a Universidade”, comentou Luiz Henrique. Ele acredita ainda, que as recentes mudanças no cenário político nacional, tenham desacelerado a implantação.

Entretanto, o decano disse que há uma boa perspectiva com relação ao curso de Medicina, já que o próprio MEC reconheceu estar em débito com a UFSB e sinalizou a liberação das vagas.

Luiz Henrique adiantou já solicitou à reitoria da universidade, a abertura imediata do concurso para pelo menos 15 docentes para área médica, “isso nos daria fôlego suficiente para ter as 80 vagas”, destaca.

Se eles liberarem essas 15 vagas e tenho esperança que eles liberem, porque a própria Secretaria de Ensino Superior (SESU), enviou uma carta o Ministério de Planejamento apoiando nossa causa, acredito que em junho as vagas sejam liberadas e a gente consiga fazer o concurso. Já estamos com o edital pronto, quando Brasília autorizar, no outro dia publicamos o edital. Contratando os docentes, não vejo o porquê de não termos as 80 vagas”, explicou.

80 vagas para as três cidades

O decano Luiz Henrique confirmou que as possíveis 80 vagas sejam disputadas pelos campi de Teixeira de Freitas, Itabuna e Porto Seguro, “todo o estudante sabe que o mesmo curso que está sendo aplicado em Teixeira está sendo aplicado em Itabuna e Porto, é injusto o estudante do BI de Saúde dessas outras cidades não concorrerem às vagas, já que são da mesma universidade”, disse.

Critérios para progressão e Anasem

Segundo o decano, os critérios estabelecidos em 2014 foram plenamente respeitados e o que a UFSB fez este ano foi deixar os critérios mais claros.

Lá em 2014 está dizendo que o estudante para migrar para Medicina tem que ter proficiência em inglês, agora nessa resolução nós detalhamos o que a universidade entende por essa proficiência em inglês”, exemplificou.

Com relação a Avaliação Nacional Seriada dos Estudantes de Medicina (Anasem), Luiz Henrique disse que o exame também já estava previsto na resolução de 2014 para critério de seleção de vagas e o que o CONSUNI fez, foi detalhar qual seria a prova. Criada por meio da promulgação da Lei do Mais Médicos a Anasem é exatamente como disse os alunos do BI, obrigatória a partir do segundo ano do curso de Medicina.

De acordo com o decano, ninguém perde na Anasem, feito pelo INEP, mesmo órgão que coordena o Enem. Ele explica que o exame dará conceitos de desempenho (básico, adequado ou avançado), e servirá como oportunidade para melhorar o Coeficiente de Rendimento com a soma equivalente ao desempenho, e nunca perda de notas.

Por exemplo, o CR de 9 com o desempenho básico da Anasem, terá o coeficiente multiplicado por 1 mantendo os 9. Com desempenho adequado o CR será multiplicado por 1,05 com aumento de 5% e avançado 1,1, ou seja, 10%.

Muitos alunos trabalham e nem sempre têm o tempo e dedicação de outro estudante que não trabalha, com a formula que criamos, ele poderá melhorar o CR estudando até mesmo em casa”, destacou Luis Henrique.

Componentes Curriculares, turma de 2014

Sobre o rendimento dos alunos da turma de 2014, o decano não acredita que as adaptações iniciais das matérias tenham afetado o rendimento do alunado. Ele comentou que houve a retirada da obrigatoriedade de matérias e que o injusto seria o acréscimo dos componentes.

Turmas de 2014, 2015 e 2016 com conclusões em setembro

O decano explicou que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) é contra a aceleração de cursos. Por outro lado, o aproveitamento de estudos é contemplado pela legislação educacional brasileira na Resolução CFE nº 5/79 do antigo Conselho Federal de Educação da Lei 9.394/96.

O artigo 47 diz que os alunos que tenham extraordinário aproveitamento nos estudos, demonstrado por meio de provas e outros instrumentos de avaliação específicos, aplicados por banca examinadora especial, poderão ter abreviada a duração dos seus cursos, de acordo com as normas dos sistemas de ensino.

A UFSB estuda o lançamento de um edital próprio determinando a complementação dos 3 anos para migração do curso de Medicina, “o plano orientador não quer que o aluno saia daqui um técnico, queremos formar pessoas e para formá-las é preciso estimular a vivência do curso”, disse o decano.

A maioria do Conselho Universitário, que tem representantes da turma de 2014, também não ver com bons olhos a aceleração do curso e os alunos foram orientados a consultar a procuradoria da instituição.


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